sexta-feira, 20 de abril de 2012

(India) Amritsar e o Templo Dourado


Amritsar, Punjab India
Agosto 2009

Amritsar é uma cidade digna de visita por duas razões. 
A primeira é uma cerimónia muito particular que acontece diariamente na fronteira entre a India e o Paquistão. Esta é a única fronteira aberta entre os dois países, que como se sabe tem relações problemáticas há vários anos. Diariamente ao fim do dia na hora estabelecida de fecho da fronteira, os dois países protagonizam sincronizadamente um teatro muito peculiar, em que militares de ambos os lados marcham de forma viril e aparentemente agressiva em direcção aos portões da fronteira oposta. É uma dança nacionalista de demonstração de poder e afirmação. O peculiar da performance, dado que as relações entre os 2 países não são propriamente amigáveis, é o facto desta se parecer com um banal jogo de futebol ao qual se vai assistir por puro entretenimento. De ambos os lados há bancadas, e cada lado da fonteira torce pela sua equipa! Na fronteira da India, onde fiquei,  grita-se "Longa vida para a India" , do lado do Paquistão ouve-se as bancadas gritarem algo provavelmente idêntico. O espectáculo processa-se em crescendo, a dança dos militares vai ficando mais intensa até a um ponto de quase êxtase para alguns populares mais motivados! Galvanizados gritam e cantam até perder a voz, comparável ao mais esperado derby futebolístico.

Embora simpaticamente um polícia me tivesse encaminhado para as bancadas reservadas aos turistas, optei por ficar no meio dos indianos para puder ter a experiência real. Foi marcante e intenso, aliás como é qualquer aglomerado de seres humanos juntos a torcer por uma mesma causa. Alguns momentos um pouco assustadores confesso, sobretudo quando alguns dos populares mais entusiasmados se exaltavam de modo quase enlouquecido. Mas no final, ou não fosse a India, acabámos todos a dançar e a cantar, sem qualquer sinal de agressividade ou loucura.

Qual dos dois países sai vencedor deste derby, sinceramente não sei, mas pergunto-me se isto seria possível em alguma outra parte do mundo…

A segunda razão para visitar Amritsar é o Golden Temple (Templo Dourado). Um templo fantástico justamente comparado ao Taj Mahal, e que torna a cidade o centro mundial da religião dos Sikhs. É um dos monumentos mais visitados na India e recebe diariamente milhares de peregrinos Sikhs que tentam pelo menos uma vez na visitar o seu templo mais sagrado, assim como turistas de várias nacionalidades sobretudo indianos de outras religiões.


Na cidade (feia e suja como todas as grandes cidades indianas) já não há vacas na rua, e todos os homens usam turbante para prender os longos cabelos , um dos símbolos da devoção e religião Sikh.

Esta religião surge na India numa resposta ao Hinduísmo (sobretudo ao injusto sistema de castas), e ao islamismo (uma das mais presentes religiões no país). No sikhismo não há adoração de deuses nem representações do mesmo, o culto é feito a um livro – O Livro Original - onde se encontram todos os ensinamentos dos 5 gurus fundadores da religião. O Livro é guardado no interior do Templo, que tem quatro entradas simbolizando a abertura do mesmo a todas as religiões e sobretudo às quatro castas da divisão social Hindu.
  
É simplesmente maravilhoso visitar este templo, todo ele dourado, construído no meio de um lago (também ele considerado sagrado), onde os peregrinos se banham tentando purificar corpo e espírito. O reflexo do seu dourado na água com a luz do fim do dia, ou com o luar da noite são imagens que jamais esquecerei. Ao longo de todo o dia, até ao fecho do Templo os versos do Livro sagrado são recitados em forma de canto, acompanhado por músicos ao vivo, e todo o som é transmitido por altifalantes por todo o complexo, criando assim um ambiente muito especial e agradável.

A monumental cantina comunitária do complexo do templo é de visita obrigatória. A cantina providencia comida gratuita para todos os visitantes de qualquer religião, cor, casta ou sexo. A partilha de refeições com estranhos reforça um dos principais pilares do sikhismo: a igualdade. Cerca de 10.000 refeições de lentilhas e chapati (pão indiano) são servidas diariamente graças a eficiência dos seus funcionários e voluntários.

O Templo Dourado mereceu a minha visita por um dia inteiro. Foi um local onde me senti bem e não dei pelo tempo passar. Passeei pelas margens do lago, sentei-me a ouvir a música recitando os textos sagrados e observei a fé dos peregrinos como quando se lê um livro que não se consegue parar. Fui jantar e voltei à noite, para ver o Templo brilhar com a lua e assistir à cerimónia do fecho e recolha do Livro. No dia seguinte partia para Norte. Mas se assim não fosse voltava ao templo outra vez.

Talvez seja simplesmente natural sentirmo-nos bem na casa de Deus. Qualquer que seja o nome o e a forma que lhe dermos. 

1 comentário:

  1. Qualquer que seja o nome o e a forma que lhe dermos......... (é bom ter algo em que acreditar, muito bom)

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