Califórnia,
USA
Dezembro
2009
De
que se trata afinal o Natal? O que é verdadeiramente importante nesta época? A
companhia da família e amigos? As refeições fartas com mesas bem recheadas? Os
presentes? E quais? Aqueles que esperamos receber ou os que vamos oferecer? E
dentro dos presentes que vamos oferecer quais os que verdadeiramente queremos
oferecer e quais os que TEMOS que oferecer? E porque é que temos de o fazer já
agora?
Este
ano passei uma época natalícia diferente. Viajei com a família mais próxima
para os Estados Unidos o que tornou toda a quadra muito diferente para nós. O
stress pré natalício que todos nós abominamos passou-me ao lado. A lista dos
presentes, as idas constantes a lojas, os shoppings com multidões enervadas, os
parques de estacionamento sem lugares, o trânsito caótico, aqueles malditas
últimas prendas que nos esquecemos e que temos que desenrascar no dia 24, e por
fim toda a nervura familiar para que tudo corra bem em todos os aspectos: a
comida que não pode faltar e de preferência que sobre, para que se possa
apreciar restos de peru e fritos infindáveis até pelo menos dia 31 de Dezembro;
que o pai e o genro se controlem e não discutam política durante o jantar, evitando
na noite da consoada uma desagradável discussão, que leve à lavagem de roupa
suja há muito contida; que a prima não apareça com um presente 10 vezes mais
caro que aquela “pequena lembrança” que temos para lhe dar; que o irmão mais
velho não beba demais e antes da meia noite já dance o Jingle Bells em boxers;
que não suba a tensão à avó, e que a mãe não se enerve demais e comece a
chorar, por tentar controlar tudo isto e nada dar certo.
E
depois é só sentarmo-nos e deixar que apareçam os fritos, os fritos, os fritos.
E queixarmo-nos 4 horas mais tarde que abusámos enquanto lamentamos não ter
comprado mais água das pedras. E esperar que apareçam os presentes, mais
presentes, mais presentes.
Aqui
seria o ponto em que introduziria facilmente o tópico desta crónica: no meio de
tanta superficialidade, que espaço sobra para o tal Amor e Paz que é no fundo o
que origina e caracteriza a época festiva?
Mas
não. Não me vou debruçar sobre esse cliché para já.
Vou
sim escrever sobre o excesso.
O
excesso, que se liga com o Natal e com a viagem que fiz aos USA.
USA:
Terra Prometida para uns, o Grande Satã para outros. Como as coisas podem ser
diferentes dependendo do ponto de vista…
De
tanta coisa que poderia falar da Costa Oeste que visitei, tanta coisa
fantástica escreveria 100 páginas facilmente. Escolhi apenas o excesso por, aos
meus olhos, se relacionar com a quadra que vivemos
O
excesso tem muitas caras. Nos Estados Unidos o excesso mais visível aos meus
olhos são os alimentares.
As
doses servidas em qualquer restaurante são pelo menos o triplo das doses
servidas em Portugal.
Das nossas refeições sobrava sempre metade, muitas vezes mais
ainda, facto que era visível com a maioria dos estrangeiros. Isto significa que
grande parte da comida servida vai para o lixo como muitas vezes vimos.
Multiplicando por milhares de refeições, hotéis e restaurantes este desperdício
dá um número assustador.
Para
os americanos as quantidades estão adequadas. Curiosa e estranhamente adequadas.
Um copo de coca-cola num Mac Donald´s tem 3 vezes o tamanho de Portugal, o que
me parece coca-cola suficiente para encher o estômago de qualquer mortal
durante um dia inteiro. Mas não o deles!
Whatever,
cada um come o que quer. E daí receba as suas consequências. No caso dos
Americanos a consequência é bem visível pelo excesso de peso de tantas, mas
tantas pessoas. Famílias obesas são frequentes, e o mais assustador são as
crianças, pequenas e igualmente obesas.
Acho
inevitável a comparação que os meus olhos fazem com um país que tenho visitado
e que conheço bem: a Índia.
Aqui
o excesso é oposto. A falta de alimento é desesperante. Não há excesso
alimentar mas de fome. Não há desperdício de comida, mas pelo contrário,
pessoas que passam dias inteiros comendo apenas uma mão cheia de arroz. Não há
excesso de obesidade mas excesso de magreza, de sub nutrição.
E
nós no meio… que posição confortável. Nós, os velhos e superiores europeus,
podemos criticar a ignorância americana, e ter muita muita pena de miséria
indiana…
Que
podemos nós fazer para mudar uma disparidade destas? Para acabar com a fome em
países pobres e aproveitar excessos de países ricos?
Provavelmente
nada no imediato. Mas podemos sempre lembrar uma das mais famosas frases de
Ghandi “Vamos ser a mudança que queremos
ver no mundo”. E por mais pequena que ela seja podemos começar a pensar e a
criar esta mudança.
Podemos
começar por olhar por exemplo para os nossos próprios excessos. Que tal como
balanço de ano novo?
O
que compramos a mais, o que gastamos a mais, o que comemos a mais ou o que
deixamos no prato.
Pensar
nos excessos com que vivemos e tantas vezes sem darmos por isso.
Tanto
em que podemos pensar. Quem sabe o excesso de falar demais que normalmente leva
a saber ouvir pouco? O excesso de medo que nos impede de viver a vida? O
excesso de ego que não nos permite olhar para quem somos de verdade?
Não
sei.
No
que me toca eu vou olhar para os meus excessos.
Fica
o desafio para todos.
E
como o excesso de neve nos EUA cancelou os meus voos e cheguei mesmo no dia de
Natal , não tive tempo para nada, não tive jantares de Natal, nem fiz
telefonemas nem desejei boas festas quase a ninguém.
Ainda
vou a tempo para desejar a todos uma óptima entrada em 2010!
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