sexta-feira, 20 de abril de 2012

(USA) Um farto Natal na Califórnia


Califórnia, USA
Dezembro 2009

De que se trata afinal o Natal? O que é verdadeiramente importante nesta época? A companhia da família e amigos? As refeições fartas com mesas bem recheadas? Os presentes? E quais? Aqueles que esperamos receber ou os que vamos oferecer? E dentro dos presentes que vamos oferecer quais os que verdadeiramente queremos oferecer e quais os que TEMOS que oferecer? E porque é que temos de o fazer já agora?
Este ano passei uma época natalícia diferente. Viajei com a família mais próxima para os Estados Unidos o que tornou toda a quadra muito diferente para nós. O stress pré natalício que todos nós abominamos passou-me ao lado. A lista dos presentes, as idas constantes a lojas, os shoppings com multidões enervadas, os parques de estacionamento sem lugares, o trânsito caótico, aqueles malditas últimas prendas que nos esquecemos e que temos que desenrascar no dia 24, e por fim toda a nervura familiar para que tudo corra bem em todos os aspectos: a comida que não pode faltar e de preferência que sobre, para que se possa apreciar restos de peru e fritos infindáveis até pelo menos dia 31 de Dezembro; que o pai e o genro se controlem e não discutam política durante o jantar, evitando na noite da consoada uma desagradável discussão, que leve à lavagem de roupa suja há muito contida; que a prima não apareça com um presente 10 vezes mais caro que aquela “pequena lembrança” que temos para lhe dar; que o irmão mais velho não beba demais e antes da meia noite já dance o Jingle Bells em boxers; que não suba a tensão à avó, e que a mãe não se enerve demais e comece a chorar, por tentar controlar tudo isto e nada dar certo.

E depois é só sentarmo-nos e deixar que apareçam os fritos, os fritos, os fritos. E queixarmo-nos 4 horas mais tarde que abusámos enquanto lamentamos não ter comprado mais água das pedras. E esperar que apareçam os presentes, mais presentes, mais presentes.

Aqui seria o ponto em que introduziria facilmente o tópico desta crónica: no meio de tanta superficialidade, que espaço sobra para o tal Amor e Paz que é no fundo o que origina e caracteriza a época festiva?
Mas não. Não me vou debruçar sobre esse cliché para já.

Vou sim escrever sobre o excesso.
O excesso, que se liga com o Natal e com a viagem que fiz aos USA.
USA: Terra Prometida para uns, o Grande Satã para outros. Como as coisas podem ser diferentes dependendo do ponto de vista…

De tanta coisa que poderia falar da Costa Oeste que visitei, tanta coisa fantástica escreveria 100 páginas facilmente. Escolhi apenas o excesso por, aos meus olhos, se relacionar com a quadra que vivemos
O excesso tem muitas caras. Nos Estados Unidos o excesso mais visível aos meus olhos são os alimentares.
As doses servidas em qualquer restaurante são pelo menos o triplo das doses servidas em Portugal. Das nossas refeições sobrava sempre metade, muitas vezes mais ainda, facto que era visível com a maioria dos estrangeiros. Isto significa que grande parte da comida servida vai para o lixo como muitas vezes vimos. Multiplicando por milhares de refeições, hotéis e restaurantes este desperdício dá um número assustador.
Para os americanos as quantidades estão adequadas. Curiosa e estranhamente adequadas. Um copo de coca-cola num Mac Donald´s tem 3 vezes o tamanho de Portugal, o que me parece coca-cola suficiente para encher o estômago de qualquer mortal durante um dia inteiro. Mas não o deles!
Whatever, cada um come o que quer. E daí receba as suas consequências. No caso dos Americanos a consequência é bem visível pelo excesso de peso de tantas, mas tantas pessoas. Famílias obesas são frequentes, e o mais assustador são as crianças, pequenas e igualmente obesas.

Acho inevitável a comparação que os meus olhos fazem com um país que tenho visitado e que conheço bem: a Índia.
Aqui o excesso é oposto. A falta de alimento é desesperante. Não há excesso alimentar mas de fome. Não há desperdício de comida, mas pelo contrário, pessoas que passam dias inteiros comendo apenas uma mão cheia de arroz. Não há excesso de obesidade mas excesso de magreza, de sub nutrição.

E nós no meio… que posição confortável. Nós, os velhos e superiores europeus, podemos criticar a ignorância americana, e ter muita muita pena de miséria indiana…
Que podemos nós fazer para mudar uma disparidade destas? Para acabar com a fome em países pobres e aproveitar excessos de países ricos?
Provavelmente nada no imediato. Mas podemos sempre lembrar uma das mais famosas frases de Ghandi “Vamos ser a mudança que queremos ver no mundo”. E por mais pequena que ela seja podemos começar a pensar e a criar esta mudança.
Podemos começar por olhar por exemplo para os nossos próprios excessos. Que tal como balanço de ano novo?
O que compramos a mais, o que gastamos a mais, o que comemos a mais ou o que deixamos no prato.
Pensar nos excessos com que vivemos e tantas vezes sem darmos por isso.
Tanto em que podemos pensar. Quem sabe o excesso de falar demais que normalmente leva a saber ouvir pouco? O excesso de medo que nos impede de viver a vida? O excesso de ego que não nos permite olhar para quem somos de verdade?
Não sei.
No que me toca eu vou olhar para os meus excessos.
Fica o desafio para todos.

E como o excesso de neve nos EUA cancelou os meus voos e cheguei mesmo no dia de Natal , não tive tempo para nada, não tive jantares de Natal, nem fiz telefonemas nem desejei boas festas quase a ninguém.

Ainda vou a tempo para desejar a todos uma óptima entrada em 2010!
Que para todos seja um ano fantástico, e possam aproveitar com consciência tudo o que de maravilhoso a vida tem para dar.



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